Qual o caminho mais longo que você, mãe atípica, já percorreu?
- Jornada Neurodiversa
- 17 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de jul.
O meu foi o percurso de casa até a escola com meu filho TEA e eram apenas 200 m de distância.

Algumas cenas são impossíveis de apagar da memória, principalmente quando se repetiram à exaustão. Lembro como se fosse ontem: 200 metros. Só isso. Duzentos míseros metros da porta de casa até o portão da escola do meu filho. Mas, pra nós dois, era como atravessar um labirinto, onde cada passo era uma verdadeira batalha, mesmo já conhecendo a saída.
Diariamente, o mesmo caminho, a mesma distância, e sempre levávamos um tempo muito maior do que a maioria das pessoas. Assim que saía com ele, eu me desdobrava em tentativas: conversava, cantava, fazia-o rir, tudo para distraí-lo. Mas isso só funcionava até a primeira esquina, quando ele notava que era o caminho da escola.
Era então que a recusa começava. Ele não queria ir, quase sempre se recusava a andar. E eu? Precisava pegá-lo no colo e seguir em frente, mesmo em meio ao choro e aos gritos, parando a cada 20 metros para tentar aliviar um pouco o peso da mochila, da lancheira, da pasta, do guarda-chuva e, claro, dele, que já não era mais um bebê, embora ainda não falasse.
Naquele sol quente, quase 13h, no meio da calçada, eu sentia não só o fardo físico, mas também o peso dos olhares de julgamento e a voz das minhas próprias inseguranças. Antes de sair de casa, eu só pedia uma coisa: que não encontrasse com ninguém na rua. Me sentia pequena e incapaz, chorava junto com ele porque eu não sabia mais o que fazer e eu não entendia o que ele precisava.
Aquilo que para a maioria era um percurso trivial, para mim, foi o caminho mais longo que já percorri. Para ele também era exaustivo, não à toa (e não somente por isso) dormia durante boa parte do tempo da aula.
A verdade é que, para nós, mães atípicas, a vida se acontece em uma sucessão de "longas distâncias", desafios invisíveis para a maioria, mas que marcam profundamente nossa jornada.
Começa, muitas vezes, com a incerteza e a exaustão do caminho do diagnóstico: a busca incessante por respostas, por médicos e especialistas, a espera por laudos, muitas vezes em um sistema que não oferece o suporte necessário.
Depois, nos deparamos com o caminho do preconceito e da incompreensão: os olhares curiosos, os comentários indelicados, a falta de empatia de pessoas que não entendem a realidade de uma criança atípica e sua família. A necessidade constante de explicar e educar.
E o caminho da solidão e do isolamento? A dificuldade em manter relações sociais, os amigos que se afastam, a exaustão que impede a participação em eventos sociais.
Sem falar, no caminho das terapias e intervenções: A rotina exaustiva de levar e buscar em diferentes terapias, o investimento financeiro e emocional, a esperança e as frustrações.
O caminho da aceitação e resiliência muitas vezes também é longo: O processo de luto pelas expectativas "típicas", a redescoberta da felicidade nas pequenas vitórias, a força para seguir em frente.
Apesar de todas as dificuldades e da exaustão, é nessa jornada que a maioria de nós descobre uma resiliência, um amor e uma força que nem imaginava possuir. Nos reinventamos a cada luta e encontramos alegria até nas pequenas, mas preciosas, vitórias.
Então, volto a perguntar a você, mãe atípica: qual o caminho mais longo que já percorreu? Aquele que, por mais curto que fosse em metros ou em minutos, pareceu se estender por uma eternidade? Compartilhe sua história nos comentários – sua experiência pode ser a luz no caminho de outra mãe. E se este post tocou seu coração, compartilhe-o com outras mães atípicas que você sabe que se identificarão.
Com afeto, Lu 💙🧩
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